O Indivíduo e a Sociedade (PT)
2025-06-18 •4 minute read
Nota: este texto foi escrito com base no tema para o grupo III do Exame de Português do 12º ano de 2025.
“O que surgiu primeiro, o ovo ou a galinha?” Esta pergunta será certamente conhecida de toda a gente e pode ser aplicada em vários outros contextos. Em relação à sociedade e aos indivíduos que a constituem, podemos perguntar: “quem surgiu primeiro, o indivíduo ou a sociedade?”; por outras palavras, se a sociedade faz os indivíduos ou se são os indivíduos que fazem a sociedade.
Tal como a pergunta do ovo e da galinha, esta acaba por ser uma questão sem uma resposta satisfatória. A sociedade e o indivíduo estão intrinsecamente ligados um ao outro, não podemos ter sociedade sem indivíduos e vice-versa.
Assim, vou apresentar dois exemplos neste texto, um de uma situação que a sociedade molda os indivíduos e outro do cenário oposto. Ambos são relativos à sociedade portuguesa, noutras sociedades haverá certamente algumas diferenças.
Vamos pegar nos papéis de género, algo que afeta toda a gente, mesmo que de forma diferente. No caso dos homens, existe a expectativa de que estes têm de ser fortes, não podem mostrar emoções e devem ser o “pilar” da família. Mesmo a nível físico, não devem ter cabelo comprido, usar maquilhagem ou roupa como saias e vestidos. Desta forma, se virmos um homem na rua e ele não estiver a usar maquilhagem, será porque ele não gosta de usar ou pela pressão social de que não o deve fazer? Podemos aplicar a mesma questão ao lado feminino. Se uma mulher sair à rua com as pernas depiladas, é porque gosta de se ver dessa forma ou porque a sociedade espera dela, enquanto mulher, que o faça? Mesmo que ela diga que o faz porque se sente bem assim, isso não será, pelo menos em parte, porque toda a sua vida foi-lhe incutido que ter pelos nas pernas é “feio”, “masculino” e sinal de “desleixo”?
Por muito que gostemos de pensar que todas as nossas preferências são algo “nosso” e que temos liberdade para gostar do que quisermos, não podemos ignorar que a pressão social para gostar de certas coisas ou agir de certa forma acaba por ter um impacto imensurável em nós enquanto indivíduos.
Por outro lado, esta pressão social muda, já mudou várias vezes e irá ainda sofrer alterações ao longo das nossas vidas. Para comprovar este fenómeno, basta olhar outra vez para os papéis de género. No século passado, era exigido às mulheres que se vestissem de forma modesta, que fossem obedientes (sobretudo ao seu marido) e que tratassem das tarefas domésticas todas. Nos dias de hoje, apesar de ainda haver quem defenda este modelo social, a grande maioria das mulheres já não obedece a estas “regras”. Esta mudança social ocorreu porque os indivíduos assim o exigiram. As pessoas foram capazes de, coletivamente, mudar a sociedade. Fenómenos semelhantes ocorreram em outros domínios da sociedade, como em questões raciais, de sexualidade e até religiosas. A Revolução dos Cravos é outro exemplo perfeito de como o poder dos indivíduos é suficiente para alterar radicalmente a sociedade.
Com estes exemplos, fomos capazes de verificar que não é só a sociedade que faz os indivíduos nem o oposto. Ambos “fazem-se” um ao outro. A sociedade molda os indivíduos na forma de pensar e de agir desde pequenos, mas estes também conseguem ser agentes de mudança e reformas sociais. É apenas importante realçar que, apesar de ser possível haver mudanças sociais por parte dos indivíduos, é preciso um esforço coletivo. Uma pessoa sozinha não consegue mudar a sociedade, por muito que se esforce, mas pode ser a faísca que desencadeia uma mudança coletiva.
Comecei este texto com a pergunta: “O que surgiu primeiro, o ovo ou a galinha?”. Eu respondo a esta pergunta com: “Nenhum, a galinha é o ovo e o ovo é a galinha”. Da mesma forma, nós, os indivíduos, somos a sociedade, e a sociedade somos nós. Nunca nos podemos esquecer disto. Por muito que certos sujeitos gostem de nos separar, de nos fazer pensar que somos apenas indivíduos e que devemos pensar só em nós próprios, NÓS SOMOS A SOCIEDADE e, se nos juntarmos, conseguimos mudar o mundo.